Polícia Civil realizou 297 prisões com mandados e 60 em flagrantes neste ano por meio da Deic |
As relações entre o governo de Daniel Ortega e a cúpula da Igreja Católica na Nicarágua vivem um momento delicado.
O último capítulo foi a prisão, na sexta-feira passada (19/08), do bispo Rolando Álvarez, a última voz abertamente crítica ao governo do país centro-americano, que atualmente está em prisão domiciliar.
A Polícia Nacional da Nicarágua acusou em um comunicado o bispo de Matagalpa, de 55 anos, de "organizar grupos violentos, incitando-os a realizar atos de ódio contra a população, causando um clima de ansiedade e desordem, perturbando a paz e a harmonia da comunidade, com o objetivo de desestabilizar o Estado da Nicarágua e atacar as autoridades constitucionais", acusações que o religioso nega.
Álvarez era conhecido por denunciar violações de direitos humanos por parte do governo Ortega, cuja guinada autoritária tem sido alvo de críticas de instituições e organizações internacionais nos últimos anos.
Outro bispo crítico do governo, Silvio Báez, se exilou em 2019 depois de receber várias ameaças de morte.
A BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, tentou obter a opinião do governo nicaraguense, mas não obteve resposta.
O que acontece na Nicarágua
Após um primeiro mandato presidencial em meados da década de 1980, Ortega retomou o poder em 2007 e, desde 2017, sua esposa, Rosario Murillo, o acompanha como vice-presidente.
As últimas eleições de novembro de 2021, que Ortega venceu com 75% dos votos, foram realizadas com sete candidatos da oposição presos e alegações de fraude por parte de organizações internacionais.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) documentou torturas e outras violações de direitos humanos cometidas pelas autoridades nicaraguenses nos últimos quatro anos, bem como o confinamento de mais de 190 presos políticos, alguns deles em condições desumanas.
Ortega, apoiado pelos governos de Cuba e Venezuela, descreveu essas acusações como "invenções" em uma campanha para "dar má fama à Nicarágua perante organizações internacionais".
Ele também acusou os bispos do país de "tomar partido" e estarem comprometidos com os "golpistas", além de terem promovido a criação de "seitas satânicas" .A relação entre Ortega e a Igreja
Nesse contexto, a relação entre o governo e a alta hierarquia católica no país encontra-se em um ponto difícil.
"Ortega atingiu a Conferência Episcopal da Nicarágua em seus dois principais nomes: o bispo estrategista, Dom Báez, foi exilado. E o bispo que organiza, Álvarez, está na prisão", disse o sociólogo e analista político nicaraguense Oscar René Vargas à BBC.
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